segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Momento vigésimo

Retoma-se a si próprio, até onde pensa conseguir. Sente-se fraco, agora. Sem vontade. Sem idade. Olha a tela. Inerte. Por sorte não enviou a mensagem. Iria inventar, para cumprir os prazos. Afinal, precisa do dinheiro. Mas, o problema, de fato, é o quanto de verdade iria contido na invenção. O impasse da ficção. Eterno para uns. Lembra da primeira vez que A Coisa aconteceu.

Foi há sete anos. Havia saído de casa, estava a caminho de uma festa com amigos da faculdade. Tinha uma namorada. Morena, longos cabelos soltos, ao vento, sempre ao vento. Iria encontra-la por lá. Haviam se desentendido três dias antes. O relacionamento não ia bem. Talvez nem se gostassem tanto assim. Era agradável estarem juntos. Sentia-se bem. Na festa, se tudo acabasse, estava tranqüilo. Se continuasse, se dessem-se bem outra vez, tranqüilo também.

Passou em um pequeno restaurante para jantar antes de ir para a festa. Era cedo ainda. Pediu uma pizza, uma água mineral e esperou. De repente, do nada, sentiu um certo desconforto gástrico. Sem saber bem o porquê, sentia-se um tanto quanto aflito. Uma certa insegurança em relação a algo desconhecido. Tudo estava em aparente tranqüilidade em sua vida. As coisas iam bem mesmo. Estudos, amigos, festas, leituras; adorava ler. Apesar disso, uma sensação de vazio passou a tomar conta dos seus pensamentos. O enjôo aumentou de intensidade. Piorava a cada minuto. Do enjôo, passou a sentir uma opressão na entrada do estômago. E a pizza que não vinha! Uma taquicardia chegou de súbito. E foi crescendo. Suor nas mãos em abundância. A respiração entrecortada. E uma sede incontrolável. E a água que não chegava! Queria levantar-se dali mas estava paralisado. Sentia medo, muito medo. Pavor. Um suor gélido escorria pela testa, e um tremor incontido apossou-se de todo o seu corpo. A boca seca. Pensou que estava tendo um enfarte, que ia morrer ali mesmo, e encheu-se ainda mais de horror. A sensação era de perda total de controle do corpo, de desmaio iminente, de morte súbita e gratuita. E, sem mais, nem menos, os sintomas todos se multiplicaram de intensidade. Aí, então, veio algo como um tranco no peito, e tudo se intensificou ainda mais.


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