terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Momento vigésimo terceiro

Samuel está agitado, andando de um lado para o outro. A persiana da sala do apartamento dela ainda continua fechada. Samuel dá socos na palma da própria mão. E agora?! E se ela não erguer mais a veneziana?! E se ela tentar e não conseguir?! E se a veneziana estragou?! Pode levar dias para mandar consertar!! Pode levar semanas para virem fazer o conserto!!! Pode levar séculos para as perdas serem reparadas!!!!! Pode ser que eu morra até lá, desespera-se; pode ser que eu fique louco. O chão principia querer sumir outra vez. A boca a secar. Um embrulho no estômago. Não, de novo não!!!!!!!, berra. Vai até a cozinha, abre a torneira da pia, mete a boca debaixo e bebe toda a água que consegue suportar. Começa a suar e a tremer. Oscila entre picos de sensações térmicas. Quente, frio, quente, frio, quente, frio. Sua, sua, treme. Vai para o banheiro, entra no boxe de roupa e tudo, abre o chuveiro. Quente, frio, quente, frio, quente, frio. Sua, sua, treme. A água corre em abundância inundando as suas roupas de lã. Sua, sua, treme. Vai perdendo as forças nas pernas; arriando o corpo escorado na parede coberta com azulejos. Desce até o chão. Sentado no piso do boxe, percebe uma lágrima; e logo uma cascata. Copioso, chora. Chora tudo. Chora todos. Chora os nadas e seus emaranhados. O choro excremento. A água do chuveiro a cair, densa, pesada, sobre o seu corpo estirado ao chão. Chora, impotente, chora. Cai de lado, abraça os joelhos, entrelaça as mãos.

Assim, como quem espera para vir ao mundo, permanece; chora, fecha os olhos e adormece.

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