quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Momento vigésimo sétimo

Samuel nem sempre fora assim. Mas, depois do dia em que, ainda com tenros dez para onze anos, viu pela primeira vez os habitantes da parede do seu quarto, todos sorrindo para ele e uma menina a resmungar sílabas amontoadas sem sentido algum, ao menos para um garoto assustado, teve certeza de que a sua vida não seria a vida que todos levavam, ou pretendiam levar. Compreendeu, ali, naquele instante, que o mundo, o seu mundo, seria muito particular. Assimilou de imediato que o dia-a-dia, a mediocridade, o comezinho, os pequenos prazeres e o viver sob padrões não estavam mais acessíveis para ele. E lamentou. E buscou esquecer. E esforçou-se para torcer pelo “seu time do coração”; e para ver o domingo pela televisão. E sentiu-se injustiçado. E por vezes tombou irado; amaldiçoando Deus, deuses, seres alados e o diabo. Amaldiçoou a si mesmo e a seus pais, por terem, na vida, se encontrado.

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