quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Momento vigésimo sexto

Quando Samuel era pequeno, queria ser astronauta. Muitos meninos queriam. Um dia, já um pouco maior, deu-se conta de que havia nascido em um país de terceiro mundo. Então passou pela cabeça dele, quando crescesse, ser jogador de futebol. Mas logo, por conta dos escassos convites para jogar no terreno baldio em frente a sua casa, ou mesmo no pátio da escola, pode precisar que, também essa, não seria a sua vida profissional. Pensou em ser bombeiro, médico, veterinário e até padre. Cursou Física na universidade, mas não concluiu por conta de problemas pessoais. Em termos mais específicos: A Coisa.

Sua mãe, ou seu pai, tinham de levá-lo para assistir as aulas, e esperá-lo no estacionamento da universidade até que ele saísse, para conduzi-lo de volta para casa. Todos os dias. Incluindo os sábados pela manhã. Foram meses, semestres, anos intermináveis. Para eles e para ele. Não saía de casa para dar sequer uma volta no quarteirão. A Coisa podia acontecer a qualquer momento, e em qualquer lugar. E se estivesse só, desacompanhado do pai ou da mãe, poderia sucumbir a si mesmo, e cair morto, ou louco, o que, para ele, parecia ainda pior.

Nenhum comentário: